sábado, 15 de janeiro de 2011

Investigador do DENARC vira Conto de Natal


Conto de Natal

Vinte e quatro de dezembro, 2010. Galeria do Rock, centenas de pessoas circulando na ansia os presentes de ultima hora. Os logistas querendo fechar as 15 horas, mas era impossível deixar de dar atenção a sua clientela. As  16:30 horas, finalmente,  conseguimos baixar as portas da loja. Caminhamos apressadamente para o estacionamento na avenida Rio Branco. Meu filho Marcone retirou a carteira do bolso para pagar a estada do carro e seguimos nosso destino para ceia de Natal com a família. Ao entrar no segundo túnel do rodoanel Mário Covas, toca o celular do meu filho.  Ele atende e do outro lado havia uma mulher dizendo que encontrara sua carteira com todos os documentos; carteira de motorista, cartão de crédito, da cartão da FGV, cartões pessoais, contatos profissionais de importância que só quem perde sabe seu valor. Havia também um quantidade em dinheiro. Como estavamos passando pelo túnel o sinal do celular foi cortado somente dando tempo de sermos informados que a mesma morava  no inicio da Rodovia Raposo Tavares e que retornaria a ligação mais tarde pois estava indo para a casa de parentes.
Ficamos um tanto atônitos com acontecimento inesperado, paramos no acostamento da rodovia para refletir na atitude que deveríamos tomar; será que a pessoa iria retornar? Será que havia decidido usar o dinheiro e jogar os documentos em algum canto? Neste momento muitos pensamentos passam por nossas cabeças, mesmo assim mantivemos-nos tranqüilos, porém apreensivos, principalmente pelos documentos pessoais e os cartões que por lá ficaram.
Decidimos voltar ao estacionamento e perguntar aos funcionários se notaram na saída de algum outro cliente o comentário destes terem achado uma carteira com documentos ou alguma coisa do tipo. Solicitamos ao gerente a lista dos carros que saíram durante nossa curta ausência, aproximadamente 45 minutos. Porém, ele informou, que não era ético fornecer os dados e que isso só poderia ser feito via judicial.
 Nesse interim me liga um oficial da PM para congratular a noite de Natal. Sentindo minha apreensão  perguntou-me se estava tudo bem e aí contei-lhe brevemente o fato. Ele lamentou o acontecimento e nos deu a esperança de que a pessoa que encontrara os documentos poderia entrar em contato novamente e que o correto seria fazer o boletim de ocorrência eletrônico para nos resguardar de um possível mal uso dos documentos.Agora, quanto ao dinheiro, poderia esquecer, pois este não recuperaria mais. A esta altura dos acontecimentos o dinheiro não tinha mais tanta importância. Seguimos para casa com o objetivo de fazer o boletim de ocorrência virtual, relaxar e tomar um bom banho antes de nos dirigirmos à ceia.
Sustamos os cartões de crédito e quando meu filho entrou no banho o celular tocou novamente. Todo molhado, foi atender, era um amigo. Minutos depois, o aparelho toca novamente era a voz de mulher que ligara horas antes. Todos corremos para acompanhar atentamente. Ela nos passou o endereço que era num condomínio do inicio da Rodovia Raposo Tavares.
Localizamos através do Google Maps e nos dirigimos para o local um tanto apreensivos, pois o oficial da PM comentou que, caso a pessoa entrasse em contato novamente e marcasse um local de encontro deveríamos tomar alguns cuidados importantes, com objetivos de evitar possíveis seqüestros ou coisas parecidas.
Fomos com alguma cautela e ao chegarmos ao local vimos que era um condomínio simples de classe média. Nos identificamos ao porteiro e adentramos ao local, cinqüenta metros adiante estavam o casal nos esperando com um leve sorriso.
A Senhora comentou; -“no local que encontramos, se tivesse qualquer tipo de drogas nós não devolveríamos, mas como estava tudo organizado, todos documentos muito bem separados, a carteira da FGV, o dinheiro alinhado ordenadamente eu pensei no meu filho, que estuda no colégio São Luiz. Vi que era um jovem muito bem organizado que até gostaria de conhece-lo”. 
Perguntamos a ela onde havia encontrado a carteira e ela disse que foi entre a Av. Rio Branco e Rua dos Timbiras, bem no antro da Cracolândia. Me dirigi até o carro peguei um panetone e entreguei a dona Maria. Ela não queria receber, mas por nossa insistência acabou aceitando. Meu filho agradeceu e pedir a permissão para deixar algum dinheiro como forma de gratidão. Eles não queriam aceitar em hipótese alguma, mas ele insistiu e ela acabou abrindo a mão e aceitando; um fio de lágrima caiu do olho dela e o marido um tanto consternado não queria também aceitar  os valores. Ela afirmou; “olha como Deus é bom, este panetone será da nossa ceia de Natal e o dinheiro, nós não tínhamos, nem mesmo para o sorvete que meu filho havia pedido durante o dia,  iremos comprar algo para o almoço de amanhã”. Nós retribuímos dizendo que o ato deles é que era divino,  o maior presente que ganhamos neste Natal foi a atitude sublime de honradez, seriedade, humildade, Cidadania, digno de um “conto de Natal”, que só poderia acontecer em filme ou novela de televisão. Ficamos todos emocionados, com lágrimas no semblante de todos brindando esse momento solene que a vida raramente nos oferece.
Este acontecimento tem que ser exemplo, tem que ser referenciado para que a humanidade possa entender que este puro ato de solidariedade acontece e muito por quem é dotado de compaixão para com o próximo. Este ato tem que ser mostrado à todos, a maior quantidade de pessoas como referencia do bom caráter que permeia no seio da sociedade brasileira. Não são só as referencias de corrupção que coroam a sociedade brasileira, com dinheiro na cueca, mensalão, mal uso do dinheiro público, do mal gerenciamento de mais de 50% do PIB da riqueza que produzimos que são usados para sustentar mordomias.  A mal distribuição da riqueza pelo Poder Público, que é construida com o suor trabalhadores sérios, faz com que pessoas como este casal sofra humildemente num dia tão solene como a noite de Natal.
Eu e todos que eu conheço só temos a agradecer atitude tão nobre como desta família que moram na periferia da nossa Cidade. Que orgulho a atitude deste casal. Isso me dá vontade de lutar cada vez mais, para que haja muito mais justiça em nosso país. Tenho a convicção que a Nação brasileira é composta de gente deste naipe, mas que infelizmente é governada por um percentual muito pequeno com caráter psicopático, com  interesses mesquinhos e particulares que levam o nosso País a bancarrota.
Ao nos despedirmos daquela real solenidade, ficamos desejosos em agradecer as forças do Universo em nos permitir vivenciar a magia daquele instante sagrado. Nos sentimos extremamente privilegiados por receber aquela graça divina, num raro momento de perfeição, que poucos seres no mundo tiveram o encanto de viver esta realidade. Porque fomos abençoados com esta sinergia que nos dá a alegria de viver ainda mais intensamente para a coletividade? Deve existir alguma razão, por isto quero dividir com todos essa luz e força que nos faz ser mais feliz.
O que elevou ainda muito mais nossa grandeza, ao despedir, a Dona Maria disse bem baixinho, a ponto do seu marido quase não ouvir, (descobrimos posteriormente que ele não gosta de falar sobre sua profissão, para não prevaricar de sua posição) “ Se precisarem de alguma ajuda meu marido é investigador do Denarc”.  Depois dessa não tenho nada mais a comentar......................
Dias depois liguei e comentei que era membro do CONSEG-CENTRO e gostaríamos de homenagear a Polícia Civil do Estado de São Paulo por ter dentro de seu quadro pessoas ilibadas a ponto de orgulhar toda a Nação brasileira. Felizmente ele aceitou...

Antonio de Souza Neto
CONSEG-CENTRO